Que tipo de pai você é? Este é o tipo de pergunta que não tem resposta certa, afinal cada pai tem suas particularidades e uma forma de criar os seus filhos. Para celebrar o Dia dos Pais, entrevistamos três pais fora do tradicional imposto pela sociedade e temos certeza que vocês irão aprender muito com essas histórias.
São eles: Cézar Sant’ Anna, pai da Fernanda, analista de marketing e acadêmico de direito, Leandro Ziotto, pai do Vinícius e fundador da 4daddy e Rafael Noris, pai do Miguel, publicitário e editor do Família Palmito. Confira!
Pais fora do tradicional imposto pela sociedade
1 – Portal d/propósito: Por favor, nos conte as suas histórias.
Cézar Sant´Anna: Sou o Cézar, tenho 31 anos e estou em adequação de gênero há 4 anos. Tenho uma filha, hoje com 13 anos, que sempre morou comigo, sempre esteve ao meu lado e tinha 9 anos quando iniciei a adequação de gênero.
Minha filha nasceu quando eu tinha 18 anos, ainda vivia como uma mulher cisgênera e em um relacionamento heterosexual com o pai dela, nós já namorávamos alguns anos.
Depois do nascimento da minha filha, por questões alheias a transgeneridade, nos separamos, então minha filha não teve o conhecimento do que é uma família com “papai e mamãe” ao lado dela.
Ele sempre foi muito presente, sempre fomos muito amigos e nos respeitamos em tudo até hoje, isso ajudou muito na convivência familiar com a Fernanda com duas casas.
Aos 21 anos eu me permiti explorar questões que vinham desde a infância e juventude. Eu sempre me senti desadequado sobre meu corpo e sobre a orientação afetiva que eu deveria ter, então eu comecei a me relacionar com mulheres.
Com 21 anos comecei a namorar com uma mulher e tudo foi tratado com muita naturalidade dentro de casa, certa vez minha filha perguntou se “ela era minha namorada” e eu não exitei em dizer que sim.
Eu sempre promovi uma educação diversa para minha filha, sempre tive amigos de todas as formas e nunca eduquei minha filha dentro da bolha social que vivíamos. Essa exposição ao mundo como ele é (diverso) é a base para que minha filha pudesse entender futuramente algo que eu ainda estaria por descobrir.
Em primeiro plano eu assumi a orientação afetiva como homossexual, pois eu ainda vivia como mulher cisgênera e namorava com uma mulher cisgênera.
Isso continuou por muitos anos, até que, mesmo com tudo na vida dando certo eu ainda me sentia incompleto, insatisfeito e infeliz. Foi quando eu tive contato pela primeira vez com o assunto transexualidade.
O tema abriu um buraco na minha cabeça e outro no meu chão e, para entender melhor, eu mergulhei nesse universo, li muitos livros autobiográficos, matérias diversas e quanto mais entendia sobre o tema mais eu me identificava com os desconfortos que sentia desde a infância e que continuaram pela adolescência.
Foi então que busquei ajuda no CPATT (Centro de Pesquisa e Apoio a Pessoa Travesti e Transexual) em Curitiba/PR onde residia no momento. Fui acolhido por assistente social que me explicou os passos para a adequação de gênero que segue o protocolo do processo transexualizador do SUS, oferecendo apoio psicológico e médico.
Meu maior receio em começar a transição de um gênero ao outro era de como isso seria recebido pela minha filha, ela que sempre conviveu comigo e já me conhecia como mãe! Em primeiro plano eu conversei com minha mãe sobre isso, informando sobre minha transexualidade e foi um choque.
Com o passar do tempo tudo se resolveu, mas ela também se preocupava muito de como as coisas aconteceriam com a Fernanda dali para a frente. Eu sempre acreditei na educação que eu tinha dado para a minha filha, então comecei a inserir o tema na nossa rotina, mostrando pessoas trans para ela e como elas estavam mais felizes agora depois de terem feito o processo de adequação para o gênero ao qual se identificam.
De maneira gradual esse assunto se tornou algo muito familiar em casa, o que facilitou muito quando já havia liberação para começar aplicar o hormônio, sentia que não podia começar nenhuma mudança sem antes conversar com minha filha.
Saímos para passear e então eu e ela sentamos para conversar, eu sempre tratei a minha filha como alguém capaz de entender tudo o que eu for capaz de explicar, usando a linguagem que ela conhecia eu contei sobre o quanto eu me sentia mal com questões do corpo, com condutas de gênero, com padrões que nos são imputados e que então eu conheci essa possibilidade de mudar e ela não tava prestando muita atenção, até que eu disse: “Filha você está entendendo o que eu estou dizendo?”. Ela respondeu: “Sim, você vai ter barba!” Eu disse pra ela: “Sim, provavelmente, mas outras mudanças acontecerão também e eu quero saber se você está entendendo e se está tudo bem pra ti”. Ela disse: “Mãe você me faz muito feliz, tudo que eu preciso você me dá, mas você também tem que ser feliz e se você estiver feliz eu vou tá mais feliz ainda”.
Aquilo que ela disse me trouxe um alívio imediato, eu estava todo preocupado e ansioso sobre tudo que estava acontecendo, mas com a simplicidade de uma criança que foi educada sem nenhum preconceito, ela conseguiu sintetizar tudo que é importante. Ser feliz com o que se tem e com quem se é!
Depois disso eu comecei a terapia hormonal e aos poucos as mudanças vieram, depois da primeira aplicação a voz começou alterar, depois de um bom tempo começou aparecer a barba e foi ela mesma que me disse isso em um jantar: ”Olha mãe, sua barba tá aparecendo já!” Eu fico todo bobo com ela.
Quando nos mudamos para São Paulo, eu já tinha uma aparência muito mais masculina, então as pessoas na rua me identificavam como o pai da Fernanda, foi então que eu perguntei pra ela o que ela achava sobre isso, ela respondeu: “Ah, você é meu pai, minha mãe, minha vida, meu mundo! Para mim tá tudo bem!”
Desde então toda nossa convivência é muito saudável, nós conversamos sobre absolutamente tudo. De vez em quando eu pergunto novamente para ela se continua tudo bem, já que agora que é uma realidade e não uma possibilidade e a opinião dela poderia mudar. Mas, não. Aqui as coisas estão muito boas, ela sente muito orgulho de nós e não esconde que tem um pai transexual.
Leandro Ziotto: Sou pai afetivo do Vini. O que é pai afetivo? É o famoso pai do coração. Não sou o pai adotivo, pois não adotei o Vini, porque ele tem o pai biológico presente, que é o Rodrigo que também participa da criação dele.
Conheci o Vini quando ele tinha 3 anos. Ele foi fruto da primeira relação da minha ex-esposa, isso mesmo ex: nos separamos em 2016, mas temos uma relação superbacana, próxima e afetiva, mesmo atualmente eu sendo casado novamente. E continuo participando dos cuidados diários do Vini, pois somos todos vizinhos de bairro.
O Vini hoje tem 11 anos e acabei tomando, ao lado do pai dele, essa figura paterna também. Até mesmo porque sempre estive com ele diariamente e, sei lá, não sei explicar muito bem. E até eu, virginiano, cético e racional, não tenho como hoje tentar buscar na espiritualidade ou no cosmo a ligação que tenho hoje com o Vini. Ser pai dele, foi a maior transformação em minha vida. Foi, é, e acho que sempre será a reforma íntima que não acabará nunca, pois diariamente aprendemos e ensinamos um ao outro. Paulo Freire já falava isso né, aprendemos ensinando, e ensinamos, aprendendo.
Nossa relação foi tranquila desde o início. Lógico que teve o clichê do ciúme dele, mas desde o início mostrei pra ele que meu papel não era roubar a mãe dele ou substituir o pai. Mas, de ser mais um cuidador, de uma pessoa que estava para somar afetos, cuidados e carinho. E tivemos uma sinergia mágica desde o início.
Meu maior desafio com minha paternidade não vinha do Vini, ele era uma criança esperando amor. Os meus desafios eram pessoais mesmo, de um homem educado e criado em uma cultura machista, que descobriu que não sabia “cuidar”. E aí fui atrás de conhecimento, ler livros, blogs, estudar mesmo. E conhecer outros pais e mães, montar uma rede de apoio. E a partir daí descobri que a paternidade, não seria apenas uma função, mas meu ativismo, pois acredito que a paternidade é um ato afetivo, social e político.
Rafael Noris: Me tornei pai aos 21 anos, mesma idade que meu pai tinha quando nasci. Na época dele, era mais comum as pessoas terem filho e se casarem nessa mesma idade, mas para minha geração sou considerado pai novo. Eu estava no último ano da faculdade e namorando com a mãe do meu filho há pouco mais de um ano quando o Miguel nasceu.
Não foi uma gravidez planejada, tanto eu quanto a mãe dele éramos ainda imaturos, vivíamos com ajuda de parentes e um salário de estagiário, tudo era muito corrido e desgastante. Quando acreditei que tudo ia se estabilizar mais, pois a minha graduação havia acabado e seria efetivado na agência que trabalhava, veio a separação.
Ela voltou a morar em sua cidade natal e eu fiquei com o Miguel em Pedreira, com a ajuda dos meus pais, pois era a melhor opção para todos. Quando o Miguel estava maior, aos 6 anos, decidi que iria morar com ele em Campinas, só nós dois. Embora fosse mais custoso financeiramente, por 2 anos enfrentamos os desafios juntos 24 horas por dia, aprendemos a dividir tarefas domésticas e criamos uma rotina só nossa, do jeito que acreditamos ser o melhor. Por questões financeiras, no último ano voltamos a morar em Pedreira com minha família e seguimos juntos na luta para melhorar a cada dia.
2 – PD/P: Como as pessoas reagem quando sabem das suas histórias e como vocês lidam com essas situações?
CS: A reação das pessoas é algo sempre muito engraçado, pois há um mix de surpresa e de encantamento. Com o passar do tempo de adequação do gênero, os caracteres masculinos ficam muito mais aparentes, então se eu não falo que sou transexual ninguém questiona, isso nós chamamos de “passabilidade” cisgênera. Então eu conheço pessoas, trabalho, vivo uma vida completamente igual a todo mundo.
Quando o assunto é abordado e eu estou em um lugar seguro com pessoas nas quais eu me sinto a vontade de falar eu sempre insiro a minha história. Por exemplo, quando o assunto é amamentação eu digo o quanto dói nas primeiras semanas, mas depois passa ou quando é falado sobre gravidez, educação de filhos, convivência familiar, violência e desigualdade entre os gêneros eu sempre falo que, por ser uma pessoa que transitou entre os dois gêneros, entendo as vulnerabilidades que as mulheres estão expostas e o quanto a leitura do homem é culturalmente um potencial agressor. Gosto muito de transmitir essas informações para qualquer um que estiver disposto a ouvir. Ainda há muito o que evoluir na sociedade com relação às desigualdades e o machismo tóxico que é imposto como conduta de gênero ao homem (seja ele cis ou trans).
LZ: Não recebo julgamentos ruins. Sei bem do meu privilégio como homem, cis, hetero, branco e de classe média. Infelizmente na nossa cultura, não precisa se esforçar muito para ser um paizão. A carga de julgamento em nos homens é mais branda do que para as mulheres mães. E por isso que falo que paternidade é também é uma forma de buscarmos a equidade de gênero e tratarmos sobre desigualdades sociais, pois a função paterna pode ou não perpetuar velhos hábitos tóxicos.
Então minha história sempre é bem recebida. E fico bem feliz e lisonjeado, apenas mais uma vez, fico atento para não deixar de enxergar meu lugar de privilégio e ter consciência dela. Sobre o meu trabalho com a 4daddy, o desafio não é a rejeição, mas sim mudar o olhar “fofo” sobre meu trabalho, para um olhar “importante” para o impacto social.
Mas, já passei por momentos constrangedores, por ouvir comentários como:
– Leandro, quando você vai ter um filho seu? De sangue?
– Nossa, mesmo separado você continua cuidando do Vinicius? E ainda pagando tudo? Mas por quê?
Já me chatearam, hoje não mais. Percebo que as pessoas não fazem por mal. Elas só estão presas nos dogmas que foram criadas.
RN: A primeira reação é de surpresa, pois a maioria das pessoas conhecem apenas mães que criam filhos sozinhas. Em um segundo momento costuma ser de “confetes”, jogando elogios e incentivos como se eu fosse um herói, papel que odeio por ver tantas mães solos sendo estigmatizadas ao passar pela mesma situação e porque também não sou um pai perfeito, bem longe disso, aliás, mas busco melhorar, não tenho medo de errar e adoro desafios.
3 – PD/P: Quais os desafios enfrentados como pais fora do modelo tradicional imposto pela sociedade?
CS: Existem alguns desafios, mas eu procuro encarar com bom humor, empatia e informação. Por exemplo, no primeiro dia da minha filha na escola nova, eu busquei ela na porta da sala e pedi pra conversar com a professora. Falei que se minha filha falar “minha mãe” com certeza sou eu, e se ela falar “meu pai” pode ser eu ou o outro pai dela que é cisgênero.
A reação foi a melhor possível, a professora entendeu todo o contexto e agradeceu pela confiança, disse que iria tomar cuidado para que nenhum tipo de situação constrangedora acontecesse com a minha filha e com nenhum outro aluno, que não admitiria nenhuma reprodução de preconceitos em sala de aula. Ao longo do tempo, todos os dias eu buscava ela na escola, na porta da sala, já era comum os amigos dela avisando: “Fernanda a sua mãe tá chegando” e eu aparecer com a aparência totalmente masculina. Isso nunca foi um problema entre as crianças, eu sempre respeitei a criançada e brincava com elas enquanto a Fer arrumava a mochila. Criança naturalmente não tem preconceito. Embora houvesse casos muito raros de alguma criança ter reproduzido a educação preconceituosa que recebeu em sua casa, mas eu facilmente contornava a situação.
Em casa eu e minha filha sempre conversamos muito e quando acontecia algo que ela se chateava, eu mostrava pra ela o quanto a opinião do outro não faz diferença nenhuma em nossas vidas, que nós vamos continuar nos respeitando, dentro das nossas diferenças e o quanto isso nos faz ser únicos. Com o tempo e com a idade ela foi se desprendendo cada vez mais desse tipo de situação, hoje ela tem uma experiência muito mais positiva do que negativa em ter um pai transexual.
Nós somos muito parceiros um do outro, sempre que acontece qualquer tipo de situação, mesmo que não tenha relação com a questão trans, nós abrimos o assunto e conversamos até entender a situação e ficar tudo bem. Ela é uma criança completamente igual todas as outras, quando faz bobagem toma bronca, quando faz as coisas certas também recebe elogio. Não fico superprotegendo ela em momento algum por achar que eu “devo” suplantar alguma falta, não, nem mesmo se fosse cisgênero, a maneira como convivemos e como eu a educo não gira em torno da minha transexualidade, isso faz com que ela entenda que o fato de eu ser trans é apenas uma das muitas características que eu tenho, assim como as que ela tem!
LZ: Difícil falar de desafios, tendo tanta consciência do meu privilégio mais uma vez, por ser homem e ainda branco e de classe média. Mas, lógico que existem desafios, inclusive pessoais.
O modelo tradicional não ajuda ninguém, só aprisiona. E se formos darmos um tom religioso e cristão à paternidade, vale lembrar que Jesus teve um pai afetivo, José. O amor que Platão falava em seu amor platônico, era aquele entre homens. Para ele, também machista, na sua época as mulheres serviam apenas para reproduzir. Nossa família tradicional brasileira deveria ser a indígena.
Acho que essa confusão seria engraçada se não fosse trágica, porque invisibiliza outras paternidades, no plural mesmo. No meu caso, nunca sofri invisibilização, apenas julgamento dos mais conservadores, mas há paternidades ignoradas pela população, Estado e empresas como: a negra, a periférica, a LGBTQ+, indígena entre outras.
RN: Até agora não achei nenhum desafio maior que a paternidade.
4 – PD/P: O que vocês aprenderam na relação com seus filhos que dariam de dica para a sociedade?
CS: Tanta coisa, nossa! Não sei nem por onde começar. Bom, o principal é que um filho é uma pessoa a parte de nós. Isso parece óbvio, mas se observar aos detalhes fica mais fácil de entender.
Por exemplo, quando bebê, o filho chora por “n” motivos e nós como responsáveis nos culpamos (principalmente mulheres cisgêneras, já que é imposto desde a fase da infância todo um treinamento pedagógico com os brinquedos que nos são oferecidos). Demorei um tempo para perceber que assim como eu tenho dias bons e ruins a minha filha também terá os dela, então eu não devo me culpar se ela está chorando, eu devo procurar entender o motivo do choro e fazer com que ela consiga entender qual é o motivo e qual é a melhor maneira de resolver.
Sim, mesmo desde pequena eu nunca dei respostas prontas para ela, se ela estava chateada eu perguntava o por quê e com a resposta eu a incentivava a chegar em uma solução. Se naquele momento ela não conseguia enxergar uma solução, então eu dava algumas opções. Isso é muito importante, pois os problemas são individuais e a maneira como absorvemos as situações e como processamos nossas experiências é muito particular.
Eu jamais poderia falar para minha filha, que estava chateada porque brigou com a amiga, que isso é frescura ou que teria menos importância. Naquele momento, isso era um problema que ela não conseguia resolver sozinha e, além de tudo estava magoada com a situação, então o primeiro passo é se acalmar (um abraço é muito bem-vindo nessa situação) depois é procurar entender qual foi o motivo do desentendimento e como resolver! Isso promove uma independência emocional e racional muito grande, pois ela aprende que pode confiar em mim, pois eu não vou encarar os problemas dela como inferiores à fome no mundo ou aquecimento global, o problema dela é importante pra ela e merece atenção. Desde criança quando frequentava a creche, os professores falavam que quando uma criança estava chorando, ela era a pessoa que chegava pra abraçar e brincar junto, isso é empatia e respeito.
Conforme foi se tornando adolescente eu vejo os resultados dessa educação. Houve uma situação que eu me orgulhei muito dela, ela aplicou sororidade com uma amiga que estava se sentindo inferior, dizendo para a amiga o quanto ela era maravilhosa, inteligente, importante e que se a amiga dela não fosse em um evento ela também não iria (eu achei isso uma graça). São crianças completamente diferentes e com estruturas familiar tão distintas que se conectam nas atividades que convivem.
Outra coisa importante é falar sobre tudo com naturalidade, se o filho tiver curiosidade sobre sexo, drogas ou coisas que são mais complicadas de explicar, dependendo da idade, não deve existir bloqueio, não existe assunto que não se conversa. Quando você aborda um assunto com uma criança com um comportamento corporal e expressão de repressão a mensagem que a criança recebe é que aquele assunto não se conversa em casa e pode ter certeza que em algum lugar no mundo ela vai descobrir. Por isso, não temos restrições sobre qualquer assunto, eu sempre digo que, como responsável por ela, sempre vou explicar as coisas da maneira mais honesta, mostrando o que é certo, o que é errado, o que ela pode escolher e quais serão as consequências das escolhas que ela fizer.
LZ: O que mais aprendi, ainda aprendo e deixo como dica aqui não é como trocar fraldas, lidar com birras e nem colocar pra dormir, mas é, desde sempre, você pai que está lendo, desde que seu filho nascer, lembre que ele é sim seu filho ou filha, pode correr seu sangue ou não em suas veias, mas entenda e aceite que ele ou ela é outro ser humano que merece ser respeitado, acolhido e entendido.
Falamos muito em desrespeito da criança com o adulto, porém não respeitamos nossos filhos também como pessoas, sujeitos que podem e devem ter suas opiniões, gostos e jeitos contrários ao nosso. Nos respeitar, não é só nos obedecer, é entender quem somos e aceitar, como devemos aceitá-los também para respeitá-los.
E outra dica é: sempre tentar se colocar no lugar da criança e tentar lembrar como era com você. Tem uma frase do Pequeno Príncipe que gosto muito: “O problema não é crescer, é esquecer…”. E nós, adultos, esquecemos e isso dificulta ter uma comunicação saudável com seu filho ou filha.
RN: Acho que são duas coisas. Primeiro é que precisamos urgentemente subir a régua com que se mede os pais, pois brincar, levar na escola, colocar limites, ir junto ao médico, alimentar, fazer dormir e coisas assim, deveria ser o mínimo. O segundo aprendizado é que precisamos resgatar uma coletividade que vem se perdendo. Na geração dos meus pais, havia uma rede de apoio muito maior que hoje em dia, na qual até gente da vizinhança se responsabilizava pelas outras crianças que brincavam pelo bairro. É preciso fazer algo para que seja fortalecido o direito da criança de ser cuidada por toda a sociedade e não apenas pelos pais em casa ou pelo governo nas escolas.
5 – PD/P: Na opinião de vocês, o quanto a figura paterna é fundamental para termos uma sociedade mais igualitária e tirar o estigma de que tem certas ações que só podem ser feitas pelas mulheres?
CS: Eu entendi a sua pergunta, mas gostaria de responder no sentido de romper esse estigma social. Não vejo que o papel do pai seja algo fundamental na educação. A psicologia explica essa convivência familiar, exemplificando o pai e a mãe como o céu e o inferno, o pai é o que põe o limite e a mãe é quem dá as permissões. Isso é péssimo para a criança, pois desde cedo ela aprende a barganhar entre os dois, aprende que existe algo depois do não.
Na educação da minha filha ela tentou algumas vezes fazer manhas, chorando e se jogando no chão, eu nunca dei ibope para isso, se ela quer chorar então chora, eu vou continuar fazendo o que eu estava, mas na hora de ouvir a bronca eu também não vou poupá-la, o importante é a criança ser orientada. Sempre que eu dava uma bronca na minha filha, depois dela se acalmar, eu sentava com ela e explicava o porquê dela ter tomado a bronca e qual era o comportamento que ela deveria ter tido naquela situação.
Alinhando com a sua pergunta, eu percebo que os comportamentos dentro de uma conduta de gênero são um péssimo exemplo para as crianças, a ideia de que a mãe e o pai tem responsabilidades diferentes por terem gêneros diferentes é contribuir para que esse ciclo nunca acabe. Um homem pode cozinhar e dar banho nas crianças, uma mulher pode trabalhar o dia inteiro fora de casa e não se preocupar em fazer a janta para a família se o outro responsável está mais disponível.
Eu faço as unhas da minha filha, faço escova no cabelo dela, sempre fiz, mas hoje quando comento isso com pessoas que desconhecem minha transexualidade todos ficam surpresos e me dão o pior título do mundo “um homão da porra”, sendo que, quando eu vivia como mulher cisgênera, não era dado nenhum elogio, pois é atribuído como parte das obrigações da mãe Quando isso acontece, eu agradeço a intenção de me elogiar, porém eu falo que eu não faço nada além da minha obrigação e que mulheres fazem isso a milhares de anos e não lhe é reconhecido como devido.
LZ: Alguns me julgam radical, porém acho que a paternidade é o ponto central de todos os nossos problemas e soluções, pois em uma cultura patriarcal, machista e que gera masculinidades tóxicas, é o papel do pai que pode perpetuar isso ou romper. Principalmente ao criar um menino! Precisamos criá-lo para que protagonizem ao lado das mulheres uma revolução humanitária!
Para finalizar, convido as pessoas a nos seguirem nas redes sociais, se cadastrarem na nossa newsletter em nosso site para acompanhar nossas novidades. E dizer que estamos sempre abertos para debater de forma construtiva e saudável a parentalidade. Precisamos falar sobre isso nas escolas, nos grupos de whatsapp e nas empresas!
RN: É preciso entender que a conquista de direitos para mães e pais não são para mães e pais, mas para os filhos. Toda criança merece ser cuidada por uma mãe que não está sobrecarregada por serviços domésticos ou por pais que não estão esgotados pelo trabalho fora de casa. Uma sociedade mais igualitária pode nascer da compreensão de que cuidar da criança, da casa e das finanças é um trabalho de todos e a justa divisão de tarefas é benéfica também para todos.
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