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homofobia

Homofobia: por que em pleno século XXI ainda é tão presente em nossa sociedade?

Os números da violência e do preconceito contra homossexuais (a chamada homofobia) ainda são alarmantes no Brasil. A cada 25 horas um homossexual é assassinado no país, segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB).

Só a cidade de Campinas registrou 1.571 casos de homofobia entre janeiro de 2012 e abril de 2017. Além disso, mais de 37% dos brasileiros rejeitariam um filho ou uma filha homossexual, segundo pesquisa realizada em 2013 pelo instituto de pesquisa Data Popular.

Cerca de 20% das empresas que atuam no Brasil se recusam a contratar homossexuais, de acordo com uma pesquisa da empresa de recrutamento e seleção Elancers.

Afinal, por que, mesmo diante da liberdade que se tem hoje em dia no país e com as novas gerações desprendendo-se de todo tipo de discriminação, ainda existe tanto preconceito e, consequentemente, tanta violência contra essa parcela da população?

A homofobia no Brasil: a luta LGBTQ+

O movimento dos homossexuais no Brasil surgiu em meados da década de 1970, no período da ditadura militar. Segundo Regina Facchini, antropóloga, desde o surgimento do movimento até os dias atuais, se passou pouco tempo do ponto de vista histórico para se ter uma mudança do comportamento social e acabar com os preconceitos que estão arraigados socialmente. “O fato de ainda haver preconceito e homofobia mesmo nas gerações mais novas é porque esse tema não tem tanto tempo assim. A gente está lidando com uma questão muito recente. O movimento surgiu na década de 1970, mas a maior visibilidade se deu a partir dos anos 1990, ou seja, 20 anos de debate social em torno das questões relacionadas à diversidade sexual e de gênero”, explica.

Até 1990, a homossexualidade fazia parte da lista internacional de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS) e era denominada homossexualismo (o sufixo ismo denota condição patológica). Antigamente, havia a interpretação de que as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo constituía um pecado e, em alguns lugares, essas relações eram consideradas crime. “Ainda hoje, em alguns países do mundo, continua sendo algo passível de punição por lei. Mas existem religiões que ainda consideram a homossexualidade pecado, alegando não ser natural porque essa prática não levaria à reprodução. Várias práticas não levam à reprodução. Já imaginou se cada vez que alguém tivesse relação sexual tivesse que ter como fruto a reprodução?”, diz Regina.

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Até 1990, a homossexualidade fazia parte da lista internacional de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS) e era denominada homossexualismo.

A homofobia no dia a dia

O artista plástico e educador Jeison Lopes Pereira já teve que esconder sua sexualidade em diversas situações. “Até hoje há vezes que me pego escondendo. Tudo é processo e infelizmente sou da geração intermediária, sou fruto das revoluções sexuais e de lutas pela manutenção tradicional, mas procuro a cada dia impor-me a toda e qualquer situação, não limitando-me a formas e padrões pré-estabelecidos”, diz Jeison.

“Homossexualidade existe porque como seres que dão nome e significado, criamos essa categoria, mas no mundo natural, tal atividade, penso que não teria nem nome, pois é natural. Penso que minha geração cresceu assistindo e convivendo com estereótipos gays e construímos uma mentalidade limitada da homoafetividade. Diferente da geração dos meus pais, que conviveram com toda criminalização da homossexualidade como meio de propagação da Aids e da conduta imoral”, afirma.

José Eduardo Giesbrecht, também artista plástico, lembra que já presenciou e foi vítima de discriminação por causa da orientação sexual. “Recentemente, um amigo meu foi atacado por seis homens numa estação do metrô em plena luz do dia. Eu já tive que esconder minha sexualidade para poder me proteger de violência física e verbal”, afirma José Eduardo.

Para Mariana Conti, socióloga, mestre em sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e vereadora de Campinas pelo PSOL, a homossexualidade é algo que faz parte da humanidade. “As formas de sociabilidade, de amor e de afeto são múltiplas, isso é diversidade. A homofobia é uma forma de exclusão e uma forma de exercer a violência. A piada homofóbica, por exemplo, reforça um conjunto de preconceitos que levam, inclusive, à morte”, diz.

Na opinião de Mariana, muitas pessoas da geração dela defendem a diversidade e algumas até conseguiram encontrar meios de se libertar sexualmente. “A homossexualidade sempre existiu, mas foi muito reprimida. Agora, principalmente nas gerações mais novas, está tendo um caminho para o exercício livre da sexualidade, o que acho ser muito saudável e digno”, afirma.

O que é ser homofóbico? Homofobia e preconceito

O preconceito geralmente desencadeia a violência a que esse grupo está exposto diariamente em todo o mundo. Segundo a psicóloga Ana Carolina Manzi, apesar das mudanças de paradigmas que vêm ocorrendo, o comportamento preconceituoso ainda existe e certamente pode ser influência de uma rede de valores culturais e até familiares aos quais o sujeito se sente muitas vezes identificado.

Ana Carolina acredita que o preconceito e a violência que os homossexuais sofrem podem ser atribuídos, além de outros fatores, também à impunidade, já que vivemos em uma sociedade que ainda é movida em grande parte por leis externas e não por um senso de valor interno.

Para a antropóloga Regina Facchini, existem outras atitudes que têm sido tomadas no cenário público que reforçam ações violentas e discriminatórias que já existem na sociedade. “Quando não querem que a discussão de gênero esteja presente nos planos de ensino ou quando se tem declarações preconceituosas por parte de pessoas públicas ou do cenário político, se cria um clima que autoriza socialmente os preconceitos”, analisa a antropóloga.

O artista plástico Jeison faz uma reflexão sobre por que os seres humanos rejeitam a homossexualidade entre seus iguais enquanto que no mundo animal a prática é comum. “Ninguém choca-se com dois cachorros machos a copularem livremente na rua, nem tantos outros que conhecemos por pesquisas. A diferença é que olhamos para eles e dizemos com tranquilidade: ‘deixe estar, são animais!’. Ora, e por acaso o que somos nós, humanos, se não animais também? Precisamos romper com nossas mitificações e começar a olhar o ser humano apenas como ser sortudo da natureza que por algum motivo evoluiu em suas tecnologias e linguagem, mas que jamais deixará de ser um animal como todos os outros”.

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