Inclusão e Diversidade no Universo Geek: o que podemos observar com as novas produções e o comportamento dos fãs
Cultura pop e universo geek são reflexo da nossa realidade – e vice-versa. A cultura acompanha as tendências, preferências e comportamentos da sociedade atual. Esta, por sua vez, é diretamente influenciada pela cultura que consome diariamente.
Por isso, ao longo de muitos anos, vimos em torno da cultura pop e, especificamente, em torno do geek (o mundo que rege os quadrinhos, filmes, séries, super-heróis, universos mágicos, animes, desenhos e outros elementos culturais) algumas “problemáticas” que, até então, eram tratadas como naturais. Afinal, para o mundo, algumas questões que hoje são tratadas como assunto sério, desconstruídas diariamente, ainda eram – sim – mais toleradas, e talvez nem eram vistas como um problema.
Estamos falando de temas como inclusão e diversidade, a representatividade da mulher, sexismo e até discussões sobre gênero e sexualidade.
Antes, em 2011, olhávamos para um cenário em que a Marvel não tinha nenhum quadrinho protagonizado por mulheres, circulando nas bancas e, mesmo anos depois, somente 20% dos quadrinhos da editora eram sobre protagonistas femininas – somado ao fato de que apenas cerca de 30% dos profissionais das HQs eram mulheres, segundo Axel Alonso, editor-chefe da Marvel.
Ainda falando sobre mulheres nos quadrinhos, essa problemática é ainda maior: além da representatividade baixa, quando personagens femininas eram trazidas aos quadrinhos, inúmeras vezes eram desenhadas em poses e roupas sexualizadas – o que já gerou muitos problemas para as editoras.
Do outro lado, olhando para produções de protagonismo masculino, ainda não estamos isentos de problemas, pois pouco vemos inclusão de diferentes etnias e raças (especialmente se olharmos para produções de televisão e cinema) ou discussões sociais. Quando raramente algum assunto era trazido à tona, quase sempre era visto com estranheza por parte dos fãs – vide 2012, quando a DC Comics anunciou oficialmente que o personagem Lanterna Verde é gay e causou alvoroço entre os leitores e espectadores.
Uma nova era: inclusão e diversidade no Universo Geek
Inclusão e diversidade no Universo Marvel
Muita coisa mudou desde então, tanto na vida real como na cultura. E, novamente, um seguiu influenciando e afetando o outro – e o que vemos, cada vez mais, são mudanças positivas.
Já em meados de 2012, a editora Marvel lançou a fase “Nova Marvel!”, que durou até 2015 e teve nada menos que 16 histórias protagonizadas por mulheres. Não somente isso, como cada vez mais ouviu as manifestações de fãs sobre a sexualização das personagens e parece ter se policiado quanto a isso – inclusive trocando de ilustradores ao longo dos anos.
A boa fase refletiu, com maestria, para as produções televisivas, a exemplo dos aclamados Capitã Marvel (filme com protagonismo feminino fortíssimo que se tornou uma das 25 maiores bilheterias da história) e Pantera Negra (cujo elenco é quase 100% negro e rendeu nada menos que 3 Oscars).
A inclusão e discursos de empoderamento estão presentes na narrativa, diálogos e construção de diferentes personagens – vide uma das cenas de Vingadores – Ultimato que causou euforia no público feminino e até mesmo o desfecho de personagens como Pepper Potts e Sam Wilson (o Falcão). E, a julgar pelo sucesso de bilheteria e a popularidade da Marvel Studios, a sociedade também está abraçando e refletindo essas mudanças.
Game of Thrones: inclusão e diversidade em séries e animes
Não só o mundo dos heróis está acompanhando o reflexo positivo em torno de inclusão, questões sociais e debates necessários. Nós, do d/propósito, já fizemos uma lista de séries que falam sobre bullying e diversidade, e vamos um pouco além.
Mesmo quando a proposta central da série não é discutir sobre tais temas, esses podem ser encontrados em discursos, narrativas e personagens. A exemplo disso temos a famosa Game of Thrones (originada da série de livros As Crônicas de Gelo e Fogo).
Embora a série apresente muitos defeitos nessa óptica, e já tenha sido duramente criticada mais de uma vez por suas cenas apelativas que não trazem nenhum tipo de ajuda a debates sociais, é inegável que Game of Thrones valoriza suas protagonistas e antagonistas femininas tanto quanto – ou mais – os personagens masculinos, além de sempre ter lidado de forma natural com temas como sexualidade (nesse ponto, outras séries seguem o mesmo exemplo, como Sex Education ou Will & Grace).
Mesmo ao se falar de cultura geek oriental (que sempre apresentou uma problemática muito maior, envolvendo polêmicas não somente sobre representatividade, mas sexualização, psicopatia e problemas mentais e até pedofilia, em casos extremos), é possível ver nuances de mudanças positivas.
Um bom exemplo disso é o personagem Mestre Kame, da animação japonesa Dragon Ball – o velhinho que, lá na década de 80, era pintado como “pervertido”, cometendo abusos como levantar o vestido de mulheres, e isso era visto como núcleo de comédia do anime. Já durante a última produção da saga, Dragon Ball Super (2015), a personalidade do personagem foi “corrigida” e as ações abusivas retiradas de cena.
Conclusão: diversidade, inclusão e representatividade Geek
Os exemplos de diversidade e representatividade no universo geek são inúmeros, e isso é reflexo de uma sociedade que está com um olhar mais atento a esse tipo de diálogo. Que seja apenas o início de uma boa e necessária “nova era”.