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Positividade tóxica: porque não é normal cobrar felicidade o tempo todo

Em tempos de “Gratidão” e “Good Vibes Only” (Apenas Energias Positivas), sobra pouco – ou quase nenhum – espaço para sermos seres humanos plurais. Conheça a Positividade Tóxica.

Incentivar a positividade não é algo novo, tampouco começou com alguma hashtag na internet.

Desde o bestseller de Rhonda Byrne, “O Segredo”, em 2006, nós já fomos ensinados sobre o mantra da lei da atração, onde o pensamento positivo gera resultados incríveis em nossas vidas, como felicidade, sucesso e riqueza.

Não muitos anos depois, a ascensão da internet, a busca por bem-estar, vida saudável e os surgimento de influencers e blogueiros expandiram o conceito de “boas energias apenas”.

Começamos a ver em sites, programas e redes sociais, as pessoas que nós admirávamos e nos inspiravam em vidas perfeitamente encaixadas, regadas a felicidade, sucesso e plenitude. Tudo nos eixos.

Fomos ensinados, também, a almejar e alcançar estes objetivos. 

“Inspire e transmita felicidade.”

“Não dê atenção à pensamentos negativos.”

“Elimine qualquer pensamento ou pessoa tóxica da sua vida.”

“Seja altamente produtivo, o tempo todo.”

“Tenha sucesso.”

“Seja pleno.”

Aos poucos, além de psicólogos, também temos até couches de felicidade e produtividade – pessoas que poderiam nos ensinar como alcançar este sentimento de positividade em todos os pilares de nossa vida, o tempo todo.

Isso tudo é, além de extremamente delicado, muito perigoso.

Veja bem, não estamos criticando influenciadores, profissionais e couches – mas é preciso acender a luzinha de alerta para o pensamento “apenas positividade”, onde é proibido ter momentos instáveis ou infelizes.

Os perigos da Positividade Tóxica

O problema não está nas frases motivacionais, ou na busca por felicidade.

Na verdade, em muitos sentidos, a ascensão desta temática traz muitos benefícios. Nunca antes falamos e nos preocupamos tanto com nossa saúde mental – o que, por muito tempo, nem era considerado um problema real.

É importante lidarmos com nossa saúde mental da mesma forma como lidamos com nossa saúde física. Da mesma forma, é importante, sim, mantermos um pensamento otimista e direcionarmos nossas ações e esforços para o positivo.

Mas não, nunca, exclusivamente – é aí que mora o perigo.

Ao mesmo tempo que falamos e nos preocupamos com isso, há uma espécie de “cobrança intrínseca” de estarmos o tempo todo bem, de sempre vermos o copo “meio cheio”.

Só que… somos seres humanos. E é cientificamente impossível estar bem o tempo todo.

E a verdade é simples: quanto mais a gente ignora nossos sentimentos, mais perdemos a nossa habilidade de lidar com eles. 

De repente, expressar irritação, nervoso ou aborrecimento não pega bem.

Depois, você começa a acreditar que o melhor a se fazer é e enterrar os sentimentos negativos dentro do peito. Exalar apenas positividade.

E acaba soterrado junto com os sentimentos ruins que enterrou. Sem saber lidar com eles. E, principalmente: frustrado pela impossibilidade de ser feliz o tempo todo.

Positividade Tóxica nas redes sociais

A coisa piora um pouco quando analisamos o problema da positividade tóxica nas redes sociais.

Já falamos aqui, no d/pPropósito, muito sobre ansiedade e redes sociais, Fomo (Fear of Missing Out) e outras problemáticas.

Nas mídias, temos a falsa impressão de que todo mundo está bem o tempo inteiro. Com as melhores roupas. Nos melhores lugares. Sempre agradecidas. 

A maioria de nós, mesmos, verdade seja dita, projeta isso.

Editamos a nossa própria realidade, escolhemos apenas as melhores fotos e legendas.

Isso causa não apenas a falsa impressão de que “a grama do vizinho é sempre mais verde” (ou, neste caso, a vida mais feliz, plena, bem sucedida), como também reafirma a ideia de que devemos focar apenas nos nossos sentimentos positivos, “ocultando” as partes ruins.  

O sucesso inalcançável 

O mesmo acontece em nossas realizações pessoais. 

Muitas vezes, a nossa autoexploração é compreendida como uma espécie de realização e de sucesso.

E, claro, devemos sempre ser altamente produtivos, focados no positivo e em nosso sucesso – e, quando não conseguimos ou falhamos… fica a sensação de impotência e incapacidade. 

Não é a toa que vivemos na Era do burnout e da ansiedade

A positividade destrutiva e a falta de empatia

Quando falamos de Positividade Tóxica, temos 2 vias complicadas.

De um lado, temos a nossa própria positividade, e a linha tênue entre realmente aceitar os próprios sentimentos e, assim, ter felicidade genuína, ou entrar na fixação de ser feliz o tempo todo, se culpando e encobrindo quando há sentimentos ruins.

De outro, a necessidade de “bloquear” qualquer energia negativa, a ponto de bloquear pessoas ao redor.

Com certeza faz bem se afastar de “pessoas âncora” ou “pessoas tóxicas”, e faz bem aprendermos a respeitar e negar o que não nos faz bem.

Mas há, também, uma outra linha tênue aí.

Nessa premissa de se afastar de energias negativas, você deixa de escutar as pessoas ao seu redor.

Imagine a situação: um amigo te procura para conversar e começa a reclamar do trabalho. Você, pensando em não carregar essa negatividade para si, se nega à escutá-lo. 

E, na tentativa de buscar positividade, deixa de ser empático, de estender uma mão amiga.

O seu amigo então, assim como você, oculta os sentimentos ruins para ser “socialmente aceito”. 

E assim a bola de neve da positividade tóxica segue rolando…

Positividade Tóxica X Aceitação Genuína

Como equilibrar essas “linha tênues”, então?

O segredo está na criação do autoconhecimento e na aceitação genuína. 

De tudo. De quando estivermos positivos, ou nem tanto assim. 

Os dias bons e ruins. 

As falhas e as limitações.

Aceitando, não de forma que sejamos acomodados, mas criando uma grande empatia por si mesmo e pelo outro.

Sabendo, profundamente, que há dias bons e ruins. E, dessa forma, esperando a “nuvenzinha” negativa passar… para retomar o otimismo depois.

Ninguém TEM QUE nada. Ninguém tem que querer assumir um determinado cargo, ninguém tem que almejar determinado tipo de relacionamento, de corpo, de atividades ou de vida.

E, principalmente: ninguém tem que ser feliz o tempo todo, estar bem o tempo todo, ter pensamentos positivos o tempo todo. 

Parece inofensivo, mas a positividade tóxica bloqueia as emoções que consideramos negativas. 

E, se eu me impossibilito de viver um sentimento, talvez ele nunca passe.

Então, acredito que o primeiro passo para virar este quadro, seja apenas respirar fundo e admitir: está tudo bem se não estiver tudo bem.

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